nada se disse – como quase nada
Arrojou-se até ao umbral – nada se disse – arranjou os olhos, preparou-os, incutiu-lhes a apetência,
o apetite, a aparência – nada se disse – olhou para o umbral: apartou-se do coração, saiu do alcance
do umbral e foi, por aí, pela terra alcatroada – disse para os olhos: turistas, turistas nesta noite; sai, sai – como quase nada –
abriu todo o corpo: os olhos, a terra alcatroada – nada se disse – voltou para dentro dos passos, empalideceu; alternou
dentro dos olhos as presenças arranjadas: dispo-las, supôs a festa abeirando-se – nada se disse – alvoraçado no
dilaceramento olhou: agora o tolhimento até aos ossos,
suspendeu os olhos – como quase nada – sabia a boca rasgada
e rasgaria uma a uma as faces: “qual delas queres” “vá despacha-te” “o coração que trago – trago-o num só trago todas as
noites – é sempre o mesmo” ” não, não me perco – os olhos – esses atravessam
os ribeiros a galope; os lagos são para olhar através dos olhos dos outros: criam-se e querem-se no lodo”
” vá tolhe a face” – nada se disse – encastrou-se ao corpo, enroscou-se, viu o coração acabado, fez saltar os olhos – como
quase nada – mostrou os dentes, agora, postiços, eram um enfeite, noite, noite,
– nada se disse – o umbral ( pensou),
regressou com os olhos embrulhados, a terra alcatroada, turistas, turistas, noite, esse poço
dentro do corpo – como quase nada – tropeçou nos olhos, o roseiral,
pétala a pétala viu tudo:
o corpo seco, a casaca de rosas – nada se disse –
vestiu-se desse corpo como o de uma pétala, encarquilhou os olhos nele, ( pensou) umbral – nada se disse – obscurecido o
coração – como quase nada – desconfiou dele.